sexta-feira, janeiro 13, 2006
O eterno retorno da derrota
Tive um dia daqueles em que acordamos com força para mudar o mundo mas adormecemos mudados por ele… … ele é, incomensuravelmente maior, mais forte e incisivo nas decisões do que nós.
Espanto o gato dos cobertores com a urgência de afastar os sonhos e acordar para o dia. Está sol e muito frio. Janeiro. A água quente do duche acaba por me trazer um ânimo novo e pela primeira vez em muitos meses não penso ininterruptamente na hora de voltar para a cama. Estou nova em folha metida nos folhos da saia. Prepara-te mundo porque hoje vou vencer!
Ajudar os pedintes da passadeira não me parece razoável e ignoro-os como não é costume no meu temperamento tendencialmente lamechas. O jornal parece mais pequeno e curto, ridículo nas minhas mãos imensas ansiosas por terem obra… confiante, quero trabalhar, preciso empregar-me, estou disponível demais para mudar.
Chegada ao local onde é suposto fazê-lo sorrio e suspiro. O que há minha gente? Que querem que eu faça? O súbito silêncio precipita-se, o telefone mudo está cansado logo de manhã e a jovem secretária ruiva olha de soslaio a minha figura agressivamente activa, contrastante com a sala impecavelmente limpa de trabalho. “Olhe’ Dra’… parece que hoje vai ser mais um dia daqueles…” e encolhe os ombros enquanto olha para a televisão. Sorrio de tristeza… desapontada teclo qualquer coisa, risco qualquer papel só para manter as mãos ocupadas. Passam horas e começo a sucumbir ao tédio. O sentido que a manhã tinha vai-se esbatendo num tom pastel quase imperceptível de cor e o telefone mudo dá uma gargalhada de escárnio.
Ao chegar a casa, bem tarde da tarde fria de Janeiro, descalça de saltos dou biscoitos ao gato. Sento-me confortável (nem por isso me sinto) na urgência de chamar os sonhos… nunca mais é hora de ir para a cama… Estou velha como um farrapo metida num farrapo de saia. Parabéns mundo, venceste outra vez!
11-01-2006 SoBoop
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