sexta-feira, janeiro 13, 2006

Adolescente Pós-Moderno 2

o café da minha adolescencia é hoje um café de adolescentes

Adolescente Pós-Moderno 1

"...A Arquitectura, agora, um produto cultural, não segue necessáriamente um programa - moderno ou outro - mas basta-se como espectáculo cuja transcendência está por vezes fora dos elementos do projecto. .... "

By Jorge Figueira, in Escola do Porto, edição eIdIdarq

A dor é de Morango

Os dias passam gelados enquanto como gelado na varanda interior da casa de praia. Sempre adorei o mar fragoso do Inverno. Sempre odiei gelados no Verão. Os cigarros acabaram ontem e a música que trouxe comigo esgotou-me a paciência, ressoa na sala como um velho disco riscado. Por vezes a sensação que me dá é que te ouço entrar e falar sem parar, interrompendo o silêncio prolongado dos dias. Sinto que não falo há anos… cheguei há dez dias! Tu saíste há mais alguns…
Depois de uma vida torturada pela tua voz crispada, alta, rouca, sem piedade da minha necessidade de refúgios e silêncios, apetece-me voltar a ouvi-la. Só mais uma vez. Agora que a Terra te engole devagar, com a lentidão da eternidade, apetecia-me ouvir essa voz, que estupidez!
Talvez precise de um pouco de maresia… o calor do fogo está a deixar-me triste e nostálgica demais para me aturar… só eu me aturo agora… assim o quis. Nem mais um cigarro me deseja aturar. Anos, não foi? Ou terão sido séculos que vivemos juntos? Aquele cheiro pestilento de ressaca que te era tão característico… onde deixei os braços esta noite? Ai, ai qualquer dia fica lá a cabeça…
Mais gelado? Hum… o morango é o meu preferido. Salpicado de pedaços verdadeiros. Como se alguém quisesse saber disso… Tu nunca o soubeste, não reparavas que o vermelho e o cor-de-rosa eram as minhas cores preferidas, as cores do gelado de morango. E as pérolas as minhas jóias… as lágrimas as minhas companheiras de noite… e o tédio o meu animal de estimação.
Recordo com nitidez o teu toque rude ao fazeres carícias. De vez em quando tentavas gostar de mim. Pedias-me para pintar os lábios e dançar contigo um charleston qualquer… iam altas a noite e a bebedeira, por essa altura. E eu aproveitava-me desses momentos breves em que me deixavas sonhar além das paredes da nossa casa de cidade, amontoada em tantas outras iguais a ela.
Aqui sim estou bem… neste cantinho a cair para o mar… enrolada em mantas de lã a comer gelado de morango. Já não te podes queixar de eu estar gorda, nem eu me vou queixar de pesar demais para as pernas… não penso deixar este cadeirão tão cedo… não penso falar outra vez… aqui sim estou muito bem!
Venço a vontade de seja o que for… não tenho mais desejo além deste gelado, abandonada por tudo vou abandonando tudo e encontrando o refúgio perdido em tantos anos de dedicação a ti… morto e enterrado devorado pela Terra…
O mar está revolto e a sua espuma grita de prazer à lua de Janeiro numa paixão natural. No silêncio aquecido da casa de Verão um soluço contido irrompe de repente, sem convite. “Se calhar… até me fazes falta!”


11-01-2006 SoBoop

O eterno retorno da derrota


Tive um dia daqueles em que acordamos com força para mudar o mundo mas adormecemos mudados por ele… … ele é, incomensuravelmente maior, mais forte e incisivo nas decisões do que nós.
Espanto o gato dos cobertores com a urgência de afastar os sonhos e acordar para o dia. Está sol e muito frio. Janeiro. A água quente do duche acaba por me trazer um ânimo novo e pela primeira vez em muitos meses não penso ininterruptamente na hora de voltar para a cama. Estou nova em folha metida nos folhos da saia. Prepara-te mundo porque hoje vou vencer!
Ajudar os pedintes da passadeira não me parece razoável e ignoro-os como não é costume no meu temperamento tendencialmente lamechas. O jornal parece mais pequeno e curto, ridículo nas minhas mãos imensas ansiosas por terem obra… confiante, quero trabalhar, preciso empregar-me, estou disponível demais para mudar.
Chegada ao local onde é suposto fazê-lo sorrio e suspiro. O que há minha gente? Que querem que eu faça? O súbito silêncio precipita-se, o telefone mudo está cansado logo de manhã e a jovem secretária ruiva olha de soslaio a minha figura agressivamente activa, contrastante com a sala impecavelmente limpa de trabalho. “Olhe’ Dra’… parece que hoje vai ser mais um dia daqueles…” e encolhe os ombros enquanto olha para a televisão. Sorrio de tristeza… desapontada teclo qualquer coisa, risco qualquer papel só para manter as mãos ocupadas. Passam horas e começo a sucumbir ao tédio. O sentido que a manhã tinha vai-se esbatendo num tom pastel quase imperceptível de cor e o telefone mudo dá uma gargalhada de escárnio.
Ao chegar a casa, bem tarde da tarde fria de Janeiro, descalça de saltos dou biscoitos ao gato. Sento-me confortável (nem por isso me sinto) na urgência de chamar os sonhos… nunca mais é hora de ir para a cama… Estou velha como um farrapo metida num farrapo de saia. Parabéns mundo, venceste outra vez!


11-01-2006 SoBoop

quinta-feira, janeiro 12, 2006

In(discriminação) 1

Todos iguais todos anormais!

Partido entre lo que sabemos

Que es lo ultimo que has robado?
Que hacias con el bocadillo en el colegio?
Donde te gusta meter la lengua?
Que sitio de tu cuerpo es intocable?
Qual es la vision que querias llevar antes de la ceguera?

Que has perdido para siempre?

Cual es tu sueno erotico mas reciente?
De tener que matar tu padre o tu madre, aquien salvarias?
Que tienes pendiente?
Saberias mentir?
A que te resistes?
Guardas los segredos que te confian?

A delinquência é um direito juvenil

"A delinquência é um direito juvenil. Sou jovem, tenho direito a apanhar bebedeiras com os amigos, tenho direito a fumar charros, tenho direito a partilhar, tenho direito a baldar-me às aulas, tenho direito a pintar grafitti, tenho direito a furar sistemas informáticos, tenho direito a piratear direitos de autor, tenho direito a invadir a privacidade alheia, tenho direito a fazer festas depois das dez da noite, tenho direito a provocar distúrbius quando não posso fazer mais nada, tenho direito a suicidar-me tenho direito a andar à porrada com os meus inimigos, tenho direito a brincar com armas, tenho direito a insultar cretinos, tenho direito a proferir obscenidades e a blasfemar, tenho direito a desobedecer à autoridade, tenho direito a atentar contra o pudor, tenho direito a ver filmes só para adultos, tenho direito a fazer amor e a cometer adultério, tenho direito a acampar onde quiser, tenho direito a roubar nos hipermercados, tenho direito a partir vidros bem situados, tenho direito a riscar carros mal estacionados, tenho direito a guiar sem carta, tenho direito a ocupar casas desabitadas, tenho direito a viajar nos vagões de carga, tenho direito a fugir do pica nos transportes, tenho direito a assediar gajos e gajas armados em bom e tenho direito a andar como quiser. Sou jovem e não se vive a juventude duas vezes. Já não sou ingénuo como uma criança, ainda não sou responsável como um adulto. A UNICEF não me protege, a ONU não me defende. Quem afirma os meus direitos?"

ESTRUMEnº16, Entrudo ( um ano qq na mudança do se. XX para o XXI )