“Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois qu...e nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, – reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (…)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (…)
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, – como da roda duma lotaria.
A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;
Dois partidos (…), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (…) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, – de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (…)”
Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.
segunda-feira, novembro 01, 2010
quinta-feira, outubro 07, 2010
How photography lost its virginity on the way to the bank.
"Never trust any photograph so large it can only fit inside a museum;
The announced demise of the decisive moment is premature; and
Museums should never exhibit photographs of visitors looking at art in museums to visitors who are looking at art in museums."
Duane Michals
The announced demise of the decisive moment is premature; and
Museums should never exhibit photographs of visitors looking at art in museums to visitors who are looking at art in museums."
Duane Michals
quinta-feira, julho 08, 2010
Ornatos Violeta - Capitão Romance
Sou a sombra do que eu sou
E ao fim não toquei em nada
Do que em mim tocou
quinta-feira, julho 01, 2010
A PORTUGAL
Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos sãopor serem meus amigos, e mais nada.
Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões;
salsugem porcade esgoto atlântico;
irrisória facede lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude;
terra tristeà luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeirosque deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povoassina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentaisque o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secascomo esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço.
És cabra, és badalhoca,és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não.
Jorge de Sena
"... . Mas se tu me cativares, a minha vida fica cheia se Sol. ..."
e pq o senhor fazia ontem 110 anos deixo te este belo texto..
"... - Olá, bom dia! - Respondeu delicadamente o princepezinho...
-Anda brincar comigo - pediu o princepezinho. Estou tão triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Ainda ninguém me cativou...
Andas á procura de galinhas? (diz a raposa)
Não... Ando á procura de amigos. O que é que "cativar" quer dizer?
... Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
Laços?
Sim, laços - disse a raposa. - ...
Eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo e eu serei para ti, única no mundo...
(raposa) Tenho uma vida terrivelmente monótona...
Mas se tu me cativares, a minha vida fica cheia se Sol. ..."
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